5 Smash #13?

“Tudo pode desaparecer num segundo. E quando esse dia chegar vou rir e dançar sob o fogo e enxofre.”
Não sou dado a profecias; prefiro o realismo, que foi precisamente o que me levou a escrever estas palavras quando escrevi sobre o meu percurso na área do jornalismo de videojogos. Um dos pontos altos foi sem dúvida o convite e trabalho que realizei pela, e com a equipa editorial da revista Smash!, que chegada à 13ª edição suspende a sua actividade.
Poucas explicações há a dar. Foi uma revista pela qual se lutou ferozmente, pela qual se fizeram sacrifícios pessoais, na qual se acreditava e que fez os possíveis e impossíveis para estar mais perto dos leitores sem esquecer o profissionalismo e a dedicação necessária de olhar para os videojogos para além do entretenimento: como objecto cultural, como algo mais que “altes gráfiques”, como algo que preenche as nossas vidas. Infelizmente não foi suficiente.
“Se for uma revista vai ser um fail”, disseram as “internetes” quando souberam do projecto, e quem disse estas palavras ou abraçou o sentimento pode sentir-se realizado no seu ódiozinho tribalista. Foi, aliás, algo que permaneceu durante as doze edições da Smash!: mesmo com todo o apoio fantástico que recebemos – dos nossos canais de comunicação oficiais a inúmeros comentários via email – houve e haverá sempre gentalha que não tolera a diferença. Perante o nosso trabalho alguma dela deu o braço a torcer, outra tentou torcer o nosso. Nada de novo nas comunidades de videojogos, quer portuguesas quer além da fronteira, portanto. Gostava de pensar que fomos a Wii das revistas de videojogos portuguesas – não tanto pelo número de vendas, mas certamente pela ira que a aposta na diferença ainda causa. E se irritámos a turba, é porque fizémos algo bem.
Que a turba fale, que condene, que goze, que se sinta enganada. O que quer que estejam a sentir não é nada comparado com o que a equipa editorial sentiu ao ver o projecto chegar ao fim. E chegados ao fim, depois de muitos custos pessoais e financeiros – e muitas vezes, ambos não podiam ser dissociados – o maior reconhecimento possível é a reciprocidade que alcançámos com os nossos leitores. Enquanto os comentadores de bancada se deliciam a escrever insultos repescados de anos de comédia de baixo orçamento, nós lutámos durante um ano contra pressões e embargos de editoras; contra o tempo; contra o desprezo pela diferença; contra tudo e todos para criar uma revista única no mercado. Foi uma luta semelhante ao de qualquer outra publicação na área dos videojogos, talvez, mas uma luta que meninos da geração Pingo Doce e Michael Pachters de chapéus de alumínio, muito dados ao seu relativismo moral, nunca vão entender ou sequer ter que enfrentar.
E foi, acima de tudo, uma luta e um triunfo cujos méritos nunca ninguém nos poderá tirar.
Em registo pessoal, só posso agradecer ao Jorge Vieira, ao Gonçalo Brito, ao Rui Parreira e ao Nuno Ramos, entre outros, pelo espírito de equipa e camaradagem mostrados durante a vida da revista, pela confiança que tiveram em mim e por me darem a oportunidade de trabalhar em algo em que sempre acreditei. Sem eles, nada disto teria feito sentido.
Até já.

5 Responses to Smash #13?

  1. @Azelpds e Marco: concordo com as vossas palavras e agradeço os votos de boa sorte. Dada a realidade do mercado, havia sempre uma sombra, um cão negro ao ombro já dizia Churchill, que por muito que se tentasse não se podia ignorar sempre. Foi bom enquanto durou, demos o nosso melhor, mas dou por mim a não conseguir encontrar muitas mais palavras para dizer sobre o assunto. Vou continuar no Hi-Gamers por enquanto, por exemplo, o que também não me deixa muito tempo para pensar sobre a Smash!, o que por um lado até é bom porque impede que resvale para o vale dos emos.

    Obrigado mais uma vez e voltem sempre. Ou aliás, quando isto tiver artigos de jeito.

  2. They turned me into a newt!

  3. Vou dizer-te o mesmo que já disse noutros lados, não que me faltem ideias, mas transmite realmente o que penso ou sinto sobre este encerramento.

    “Não posso negar que nos primeiros números senti que mais edição menos edição a [b]Smash [/b]ia chegar ao fim. Não é que não gostasse da revista, pois adorava-a, mas ainda sentia na pele vestígios de um passado não muito distante.

    Porém, chegou um momento onde a revista tornou-se uma constante e deixei de acreditar num possível encerramento, onde chegar a casa e ter a revista à minha espera já fazia parte, onde ler o editorial e as colunas de opinião era já um vício, que me faziam desfolhar rapidamente a revista à procura destes espaços para sustentar o meu vício, onde ler a vossa opinião sobre determinados videojogos era regra e onde ler completos artigos sobre variados pontos da indústria (e daquilo que por vezes estava ao ser redor) me dava imenso prazer… daí que não posso deixar de ficar entristecido por ver que a [b]Smash [/b]chega ao fim.

    Acredito que não se vão ficar por aqui, espero que não se fiquem por aqui (!), nem que para isso tenham de criar outra revista :P Mas não se pode desaproveitar o talento que estava reunido nesta publicação, e se podemos olhar para esta perda e lamenta-la, eu prefiro olhar para o fim da revista como uma aprendizagem, e se existir um regresso da [b]Smash[/b], seja em que moldes for, ou se existir a criação de algo novo, acredito que será em tudo melhor!

    Por isso mesmo, não vou dizer “Adeus” mas sim “Até já”, e da minha parte podem continuar com o meu apoio pois eu nunca deixei de acreditar em nenhum dos envolvidos nesta publicação e não será agora que o vou deixar de fazer. Força, e não nos deixem de surpreender :)

    Por isso, força Diogo, não acho que seja o fim de nada, nem de perto! Agora é que tudo começa, e pode não parecer neste momento, mas não acredito que fiques muito tempo a ver o comboio passar :P

    Abraço

  4. Azelpds says:

    Tenho pena de ler esta notícia, mas não é surpresa, seguindo a conversa e opinião que partilhei recentemente com o Nelson, num noite que o encontrei no Lounge com o Rui Parreira, que acaba por ser o ponto de encontro habitual de algum núcleo de pessoas bem vistas as coisas.

    Opinião puramente pessoal, considero que o mercado dos videojogos, no que toca à imprensa, está morto há algum tempo, o que leva a que notícias como esta, a morte de outras revistas ou os despedimentos de sites como o IGN me pareçam naturais, apesar de me entristecerem, por ver um potencial a ir por água abaixo no mercado.

    Ambos sabemos que é das indústrias que mais dinheiro tem movimentado nos últimos tempos, com um crescimento considerável de utilizadores de nota ano após ano, mas a nível de imprensa parece acontecer o oposto, qualquer que seja a abordagem utilizada.

    Talvez as pessoas já não estejam muito aí para ler sobre jogos, mas apenas para desfrutá-los, ter um momento de lazer fugaz e escapar ao dia-a-dia, não sei, é algo que fui observando e nem ir pela parte mais didáctica, o que está por detrás de um videojogo, todo o trabalho que envolve, toda a cultura em muitos casos, foi solução, nem parece ser.

    Quanto a guerras e más línguas, existem, vão existindo e vão existir, mas deixa lá que motivos aparte, também não estarão numa situação melhor, ou no caso de algumas, nem situação existe porque nem fazem nada ou mexem uma palha além da crítica fácil.

    Enfim, foi mais uma experiência que viveste, mais um passo no percurso e fica o registo das memórias positivas que partilhas aqui resumidamente e isso é que interessa.

    Grande abraço e até já. ;)