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Comments Off Sonic and Sega All-Stars Racing – Análise
Ouriços em carrinhos de compras
Era costume, na maior parte do tempo, termos os momentos das nossas vidas quando falávamos sobre jogos. Lembramo-nos da primeira vez que alcançámos velocidades vertiginosas com Sonic; aquela agitação de cenário, vida selvagem, anéis amarelos e céus azuis a tornarem-se um momento de movimento puro. Lembramo-nos do primeiro “headshot” que infligimos, parando por meio segundo enquanto contemplávamos a nossa vítima com espanto e desespero até umas balas nas nossas costas nos relembrarem que é má ideia fazer de turista numa arena onde “matar ou ser morto” é um imperativo. Lembramo-nos da primeira vez que descemos por um tubo no Mushroom Kingdom, da primeira vez que usámos um segundo comando para ter mais uma oportunidade num jogo de luta, a primeira vez que pegámos numa pistola de plástico e disparámos contra tipos poligonais ou o horror peculiar de um Zerg Rush. Tínhamos os momentos das nossas vidas porque era assim que vivíamos as nossas vidas e porque falávamos com quem vivia da mesma maneira.
Entra em cena a globalização dos videojogos e somos subitamente atirados para dentro de cubículos de expressão. Ninguém nos entende. Claro, podemos partilhar estas vinhetas com as pessoas que conhecemos; até pode ser que algumas delas compreendam que “cultura de videojogos” vai para além de uma T-Shirt a gozar com Mario ou dizer que são porreiros porque jogaram Pong. Na maioria dos casos, ficamos no silêncio porque há algo inegavelmente inocente e infantil em tudo aquilo, como uma primeira paixoneta que todos sabem que tivémos mas que dispensam ter de nos ouvir falar sobre “sentimentos”. De vez em quando encaixamos uma ou outra referência, dando uma risadinha durante os dois segundos em que nos apercebemos que é melhor explicar porque chamámos LittleBigPregnant à nossa colega de trabalho que está prestes a ser mãe. Mas quantas vezes vamos associar Spinal Tap àquele lutador de Killer Instinct até que as pessoas comecem a evitar conversa miúda e contacto visual connosco?
Sonic and Sega All-Stars Racing parece compreender isso. Parece conhecer todos esses pequenos segredos sujos sobre nós. Acena, pisca o olho, e depois apresenta um ponto de singularidade onde a nossa juventude se funde num jogo sobre karts e furries.