TRON LEGACY
28 anos de espera, mas finalmente foi lançada uma sequela a um dos filmes de culto mais emblemáticos de sempre de ficção científica, TRON. O seu nome é TRON Legacy, e foi sem dúvida uma grande escolha, pois faz jus ao legado que o seu predecessor deixou na história do cinema. TRON Legacy vêm desta forma tentar preencher um vazio enorme deixado por TRON, e apenas o seu anúncio levou os amantes de bom cinema ao delírio… será que o filme consegue agora cumprir com as expectativas muito altas dos fãs?
TRON Legacy conta a história de Sam Flynn, filho de Kevin Flynn, e herdeiro do império da Encom. Sam, tendo perdido a mãe precocemente, cresceu apenas com a companhia dos seus avós e do seu pai , o qual dividia o seu tempo entre o trabalho e o convívio com o seu filho. Certo dia, enquanto Sam ouvia o seu pai a contar histórias sobre o TRON, o seu trabalho e os jogos de arcada, Kevin conta-lhe que ele testemunhou um milagre que iria revolucionar o mundo, partindo de seguida para o trabalho… e desde então que desapareceu sem deixar rasto. 20 anos após o desaparecimento do seu pai, Alan, o criador do programa TRON, melhor amigo de Kevin Flynn e algo como um pai adoptivo para Sam, recebe um page oriundo da velha loja de Arcadas Flynn, agora abandonada.
Após tomar conhecimento da mensagem, Sam, embora incrédulo, parte para a investigar, dirigindo-se às arcadas. No meio de muitas memórias, Sam desloca-se para a velhinha arcada com o TRON, onde acabar por descobrir uma passagem secreta que lhe abre os olhos para uma nova realidade, e o coloca mais perto de desvendar o mistério por detrás do desaparecimento do seu pai…
Sendo um fã do TRON original, mal consegui arranjar umas horas livres desloquei-me ao cinema para o ver, e com uma sala esgotada o ambiente estava em grande e realmente sentia-se na pele a ânsia que as pessoas tinham em ver o filme. Bastaram apenas alguns minutos para se confirmar dois dos grandes pormenores desta franchise, a qualidade de imagem e som. Ambos estão simplesmente brilhantes, e conseguem-nos imergir no filme, o que era algo fundamental se tiverem em conta o conteúdo do filme.
Embora a história não revolve tanto em volta dos jogos como o seu predecessor, podemos desde cedo contar com as Disc wars e as lightcycles, o que contribui para o ambiente nostálgico que se formou naquela sala de cinema, prendendo-nos ao grande ecrã.
Grande parte da crítica têm comentado desfavoravelmente o filme em termos de história, dizendo que o seu real valor se encontra nos efeitos especiais, equiparando-o até algumas vezes ao fenómeno do ano anterior Avatar, razão pela qual me interrogo se a sua visão não foi perturbada devido aos óculos 3D…
Admito que esta sequela fique um pouco aquém do original, mas não tanto pela qualidade da história que apresenta, mas sim pela maneira como a faz, dando a ideia de alguma confusão a explanar as ideias principais. Mas não se enganem com comparações sem sentido, pois as ideias estão bem presentes, e dão muito que pensar, variando desde crises existenciais à imperfeição do ser humano.
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Um dos aspectos mais interessantes do filme é o confronto entre o CLU e o seu criador Kevin Flynn, onde se expandem uma panóplia de ideias actuais, como o duelo entre a humanidade e as suas criações, elaborando o tema relativo às consequências inesperadas que por vezes as nossas acções têm e a típica arrogância da juventude versus a sabedoria da idade (que também aparece bastante na relação Kevin/Sam Flynn).
A personagem Quorra adiciona bastante profundidade ao filme, desde a criação e do propósito dos Iso’s, à capacidade de um programa simular na perfeição a condição humana, levantado questões que variam da razão da vida, como a mesma foi inicialmente criada, e se alguma vez a humanidade a conseguirá reproduzir artificialmente.
Transversal a todo o filme continuam muitos dos conceitos do seu predecessor, como a possibilidade de representar uma vida humana em formato digital, e mais importante ainda conseguir usar essa informação para recriar um ser humano, sendo que esse conceito é então expandido para levantar a possibilidade de criar um ser humano a partir de dados de origem puramente digital, efectivamente transformando programas em seres humanos. A imperfeição humana, e a nossa dualidade de sentimentos também está bastante presente. De facto fica no ar a ideia que um mundo perfeito apenas poderia existir sem a presença da humanidade. A relação complicada entre pai e filho, baseada no desaparecimento do primeiro também levanta vários dilemas tipicamente humanos, como o facto do filho “neglegenciado” reter bastante amargura, ao ponto de não querer tomar controlo da Encom, empresa deixada pelo seu pai, mas ao mesmo tempo revelando bastante amor e dedicação, não querendo que a empresa ignore a visão e os valores do seu fundador.
Todavia o filme tem também os seus aspectos menos bons, como uma dose de comercialismo e clichés. De facto um dos pormenores que menos gostei foi o programa TRON ter pouca presença no filme, e da sua personagem se ter aproximado a algo semelhante ao Darth Vader. Outra cena claramente comercial foi a do bar, fazendo até lembrar a sua análoga em Matrix. Por isso a história dos Iso’s é deixada demasiado em aberto, introduzindo um pouco de confusão no filme. Sinceramente não sei se tal foi propositado ou não, pois acredito que em redor dos Iso’s, da Purga, e da própria personagem Zuse exista material para mais um filme.
Em tempos Jeff Bridges supreendeu o mundo com uma prestação memorável em Tron, e voltou novamente a supreender-nos, pois numa altura em que a sua carreira se encontrava em alta abraçou novamente este projecto já esquecido por muitos e desvalorizado por muitos outros, e porque volta a ter uma prestação assombrosa como CLU e Kevin Flynn, algo que é acessível a um número bastante reduzido de actores nos dias de hoje.
Aconselho a todos os fãs do TRON original a irem ao cinema ver este filme, e aos outros todos a verem ambos, pois esta é certamente uma francise de culto que não deve ser deixada de lado.
PUSHSTART
Relembro que podem consultar este e mais artigos na 6ª Edição da revista PUSHSTART: