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Os Videojogos nos dias de hoje: Trophies, DLCs e Downloads Digitais

Bons eram os tempos em que se estimavam as caixas dos jogos, os seus manuais, e a cassete, cartucho ou CD que saberíamos conter infindáveis horas de diversão.  O dinheiro sempre escasseou, pelo  tínhamos sempre que contar com a arte da partilha entre amigos, com os quais sempre podíamos contar, e com a garantia que eles iriam tratar o jogo com o mesmo carinho que nós demonstramos por ele.

Hoje em dia tudo mudou, já não se dá o mesmo valor aos videojogos, já não se preza o coleccionismo , já não se vivem ao máximo as experiências que deles advém.

Mas porquê? O que tanto mudou nas últimas décadas? A resposta é simples… a massificação dos videojogos e a procura da obtenção do maior lucro possível, a qualquer custo. Mas a grande culpada é a mudança drástica dos hábitos de jogo das novas gerações de jogadores. Num curto espaço de tempo surgiu a vertente online dos videojogos, e desde que os custos de Internet ficaram acessíveis a qualquer carteira, o seu impacto foi de tal forma grande que poucos são os jogos que hoje em dia não trazem esta vertente, e ainda menos os que não a trazem e conseguem escapar a serem crucificados pela crítica.

Mas não me interpretem mal, o online veio trazer inúmeras vantagens, mas o seu abuso veio a trazer ao de cima um maior número de desvantagens, que transformou a indústria dos videojogos. Se a possibilidade de conseguirmos jogar com amigos independentemente da sua zona geográfica é bastante apelativa, esta possibilidade é obscurecida pelo facto de muitos optarem por este estilo de jogo com irmãos no quarto ao lado, ou vizinhos, quando facilmente se podia estar a conviver com todos na mesma sala, o que é certamente bastante mais saudável.

E as produtoras de videojogos souberam ler bem o mercado, e o conteúdo single player começou a ser reduzido como forma de cortar custos e tornar mais célere a colocação de novos títulos no mercado. De facto ele foi tão drasticamente reduzido que grande parte dos videojogos de hoje se acabam numa questão de horas… e infelizmente esta redução grave na longevidade não se revelou como um problema, mas sim como uma oportunidade.

Neste contexto surgem os Trophies/Achievements cujo único objectivo é o de aproveitar o lado mais mesquinho de todos os gamers, aquela satisfação pessoal que obtemos ao acabar por completo um jogo, ou o de simplesmente termos algum facto que comprove a nossa superioridade face a outros jogadores novos amigos e/ou rivais. E se inicialmente este conceito aumentava a competitividade nalguns jogos de forma saudável, rapidamente esta se corrompeu pelo simples facto de ter passado a ser obrigatório os jogos terem este tipo de troféus, nem que para isso se tenha que oferecer recompensas por actividades que não contribuem minimamente para o nosso crescimento como jogador e para o domínio do jogo em si.

Isto permitiu que os jogos que na prática tenham real conteúdo para uma ou duas horas de jogo consigam vender o título sobre o manto de uma grande longevidade, pois a isso são obrigados se quiserem ter o troféu das mil horas de jogo, sem o qual para todos os efeitos ainda não concluíram o título em questão.

Mas fãs do single player não desesperem, pois a indústria não vos esqueceu, e rapidamente surgiu outro conceito que vos permitem prolongar as tais uma ou duas horas de real conteúdo, e para tal apenas precisam de fazer downloads de conteúdo adicional e estão prontos para continuar a vossa saga. Ah, mas parem lá de esfregar as mãos em deleite porque me esqueci de vos dizer um pequeno pormenor, estes downloads adicionais já há muito perderam os títulos de patches, mods ou simples extras, ganhando uma estampa de DLC com uma etiqueta com alguns €s associada. Pois é, hoje em dia compram-se demos que depois se transformam em jogos com a adição de DLCs que saiem directamente da nossa carteira, e o pior é que nem de perto nem de longe se aproximam do antigo conceito de Expansão… ou se calhar sim pois adicionam ao jogo tanta longevidade como o original…

Mas os problemas não se ficam por aqui, pois estes DLCs também vêm eles carregados de troféus, e tanta riqueza em troféus transformou o mundo dos videojogos numa competição acérrima de quem têm mais, e os videojogos passaram a ser vistos como algo descartável, algo que se compra, se joga até se ter todos os troféus registados na nossa conta, e rapidamente se vende para se conseguir comprar o próximo jogo cujos troféus ainda não possuímos,  seja ele qual for, isso não é muito relevante.

Desta forma, a estima pelos jogos referida  anteriormente perde-se, e o valor dos jogos físicos dilui-se e de que maneira. Isto permitiu a proliferação da venda de jogos no formato digital, permitindo-lhes uma drástica redução nos custos, que apenas é visível de uma forma irrisória ao consumidor mais atento. Mas o comodismo e o estilo de vida tornam este mercado bastante apetecível, e poucos pensam realmente nas suas desvantagens, e essa inconsciência ainda vai apresentar uma factura bastante cara daqui por uns anos. Até lá façam vigas para que pelo menos as pequenas produtoras, que não conseguiriam suportar os custos iniciais de uma distribuição física, consigam usufruir deste novo canal de distribuição, pois precisamos urgentemente de inovação e de qualidade de conteúdos, e não me parece que sejam as grandes companhias a fazê-lo, visto ser mais fácil, e bem mais lucrativo repetir constantemente a mesma fórmula, mas com uma pitada de melhores gráficos obviamente.

PUSHSTART

Relembro que podem consultar este e mais artigos na 3ª Edição da revista PUSHSTART:

http://www.scribd.com/doc/40912428/PUSHSTART-N3

~ by Izilthir on Novembro 21, 2010 .



2 Responses to “Os Videojogos nos dias de hoje: Trophies, DLCs e Downloads Digitais”

  1.   palu Says:

    concordo. eu hoje em dia já nem compro mais jogos à saída. Red Dead Redemption, Modern Warfare 1-2, Bad Company 2, Borderlands, Fallout 3… todos eles só os compro no dia em que saírem com todos os DLC’s num disco, a uma preço reduzido, claro (comprei ha dias as versoes especiais de MW1 e 2 a 35€ juntos. mais nunca daria). No final das contas, é a produtora que perde mais dinheiro. talvez eles um dia percebam isso. Para já, compro poucos jogos, e só se estiverem baratos. NO final das contas, acabo por gastar menos. Algures eles fizeram mals as contas.

  2.   Pereira Says:

    Adorei o texto! Muito bom mesmo. E é mesmo o que se passa nos tempos de hoje.

    Antes era diversão. O poder humilhar as pessoas e ainda gozar com elas. E ainda habilitar-mo-nos a levar uma estalada. E ainda voltarmos no dia seguinte para mais.

    Agora, é só gráficos bonitos e jogos que se acabam em meia dúzia de horas.

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