Reza a história de que a Austrália é povoado por um conjunto de meninos, sendo, consequentemente, um povo muito susceptível a imagens violentas. De tal forma que estas provocam incontinência quando os betinhos estão a dormir. Por forma a não mijarem na cama para o resto das vidas por causa dos videojogos os meninos australianos só podem acolher no seu país jogos com uma classificação etária até aos 15 anos, segundo a lei. Assim sendo as autoridades perante a eminente chegada do antro de violência do GTA 4 trataram de combater o crime com um certo e pomposo estilo.
Aplicada a típica censura para trazer o jogo “mais para baixo”, para os 15 anos, eis que finalmente os meninos australianos podem estar mais tranquilos, não estando sujeitos a serem corrompidos pela violência de decapitar alguém, para poderem, graças a Deus, mandar, apenas, um balázio na cabeça do senhor que pretendem matar no dito cujo.
Relativamente perto da Austrália está um simpático país de seu nome Nova Zelândia povoado, certamente, por um bando de arruaceiros, uma vez que têm a classificação etária de para maiores de 18 anos. Trata-se indubitavelmente duma sociedade corrompida ao permitir que meninos ainda alheados da verdadeira consciencialização própria enquanto indivíduos inseridos numa sociedade estruturada e normalizada bem como deficitários da capacidade de terem um pensamento abstracto capaz de descortinar a ténue linha que separa a realidade da ficção, possam entrar numa loja que exibe à descarada nas prateleiras das lojas, jogos electrónicos, prontos a serem agarrados por qualquer um, para maiores de 18 anos. Estamos a falar de jogos de cariz disfuncional com uma estupidificante gratuidade na propensão para fomentar a irascibilidade e transformadores anarquistas da realidade que se deve prezar pelo civismo e uma pró-actividade empreendedora do bem estar. Felizmente vivo num país e num sistema europeu onde há bom-senso e os videogramas não podem exceder uma classificação etária de para maiores de 17 anos. Só podemos lamentar a quantidade de jogos corruptos que há na Nova Zelândia e que felizmente não são passíveis de chegarem cá, uma vez que dispomos, ao contrário deles, dum sistema amigo dos bons costumes. Vivas ao conservadorismo da classificação para maiores de 17 anos, abaixo a tragédia que é a classificação para maiores de 18 anos. Temos um bom sistema, pelo que vocifero, a quem de bem na Europa me permite ter este conforto, um bem haja!
Ora… consta que na Nova Zelândia, porque está geográficamente perto da Austrália recebeu a versão do jogo censurada. Perante o tumulto dos consumidores da Nova Zelândia a Take 2 nada disse. Pudera, há que fazer render o peixe. Só que este fechar de olhos à revolta do povo sobre a injustiça que os capitalistas estavam a exercer não pôde continuar por muito mais tempo, uma vez que as ‘coisas’ aqueceram quando chegaram relatos de que já se tinha formado um vasto grupo de revoltosos, tendo as estimativas apontado para cerca de 80% de toda a comunidade dos jogadores da Nova Zelândia, ou se preferirmos em números, cerca de 20 pessoas(!).
– os protestantes lutando civicamente e amigavelmente pelos seus direitos –
Dramático, hoje, quando erramos por entre as ruínas da sobremodernidade, é saber a importância da dissensão face ao consentimento apático e amorfo das massas uniformes que alimentam e sustentam a farsa democrática das maiorias corrompidas pelo poder económico. Foi certamente incumbido deste celestial espiríto que Stan Calif descontente por estar a pagar full price por um jogo censurado, ou seja incompleto, optou pela desobediência civil e insurgiu-se contra o poder económico, personalizado pela Take 2 que não pestenejou em prejudicar o consumidor a troco de uns poucos milhares de dólares a mais ganhos por ter ali à mão a versão Australiana, não tendo consequentemente de se preocupar a “tratar” da vinda para a Nova Zelândia do jogo não censurado de, certamente, paragens mais distantes e, claro, mais dispendiosas. Optar pela desobediência civil será, talvez, a derradeira e mais importante forma de intervenção e de participação activas na vida e no quotidiano de todos.
– É necessário que desde pequenos todos aprendemos a dizer “não!” ao poder corrompido que nos tenta perverter diariamente–
Assim sendo, Stan Calif pretendia vender cópias importadas através da sua cadeia de lojas First Games. Só que isso é ilegal uma vez que no país anteriormente referido só é permitido a importação de jogos para venda ao público que tenham sido submetidos à classificação etária pela Office of Film and Literature Classification (OFLC).
Pelo menos uma coisa já sabemos: a Replay Zone de certeza que não vai abrir lojas na Nova Zelândia, visto que lá não podem vender gato por lebre, prática comum nesta referida loja (embora também já me tenha chegado relatos de pessoas que foram alvo desta prática pela GameStop) quando vende jogos NTSC ao consumidor, tendo os mesmos já sido lançados na sua versão PAL, achando-se a Replay Zone, imagine-se, que não está de todo no âmbito do seu dever comunicar ao consumidor esse, “pormenor de circunstância” de ela própria ter decidido pelo consumidor que este quer é a versão NTSC do jogo pois “Qual é o problema? O jogo é igual”, dizem eles — É, um tipo arrota um molho de notas de euros em vez de sacar da net o jogo porque só está preocupado com a puta do jogo ser igual e tudo, não se está mesmo a ver que sim.
– SHORTS!!! –
Porém, na Austrália é permitido que qualquer pessoa a titulo individual possa submeter, por exemplo o GTA 4 para análise de conteúdos, tendo sido isso mesmo que Stan fez, a troco do pagamento de USD$1080 — ah, afinal parece que a Replay Zone pode pensar em expandir o negócio para aquelas paragens. Caso o jogo fosse recusado pela OFLC, as cópias importadas a titulo individual para uso próprio passariam também a ser ilegais no país, pelo que até nestas circunstâncias a importação do meu GTAzão Quatrozão ficaria vedada. De referir também que quando o processo é classificado como urgente o mesmo poderá obter uma deliberação em até 3 dias úteis. Para isso é necessário a colaboração da entidade produtora do conteúdo em análise, a Take 2 neste caso, que gentilmente cagou para a cena não tendo portanto sido possível à OFLC ter dado uma resposta dentro deste prazo para situações de urgência. Restava esperar o prazo normal de 6 a 8 semanas para obtenção duma resposta.
Mas passadas apenas 2 semanas a deliberação foi de imediato anunciada indo precisamente de encontro à legalização da importação para venda na Nova Zelândia do GTA 4. Um sinal de que a revolta nas ruas com um veemente “Não!” ao parlamentarismo burguês do capital triunfou!
Um final feliz que vai proporcionar a cerca de 20 pessoas deste importante mercado (ei… e porque cada um de nós merece ser respeitado, pela sociedade <inserir classificação fundamentalista>, como um ser individual, e não um elemento mais pertencente a um colectivo sem identidade individual onde, assim, se é desprezável) a obtenção do jogo do milénio sem censura.
P.S. — Não, não foi o André Carita que escreveu algumas partes deste texto.
Não tenho dinheiro para pagar (€€€) o quanto ele pede por cada artigo!
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Oh wait!
Por: Abul-Fadl Nadr al-Atrabulusi